
Paes
de Andrade, assinando a ordem de serviço de construção
do açude Castanhão (Foto: Acervo pessoal da ex-prefeita
municipal de Mombaça Sr.ª Maria Diana Gomes Barreto).
João Brainer Clares de Andrade*
A
pequena Mombaça chorou. O esforço que usou para parir de
suas entranhas um de seus mais ilustres filhos viu o fim, mas com a satisfação
que a história lhe rendeu. Da pequena cidade, criado em meio a
uma aridez imprópria até aos mais resistentes, o advogado,
professor e político conquistou honrarias das forças armadas
brasileiras às principais universidades portuguesas. Paes de Andrade,
no entanto, preferia talvez seu melhor predicado: nascido em Mombaça.
As entranhas que lhe
pariram viram crescer um homem de mãos limpas e mente aberta: a
força de quem resiste à seca de Mombaça o fez se
tornar grande. Paes de Andrade deu voz àqueles que a tinham reprimida,
libertou os aprisionados pela ditadura de poucos e devolveu dignidade
ao povo brasileiro com uma constituição democrática
já em suas primeiras linhas. De Mombaça verdadeiramente
surgiu o mais forte grito de liberdade do Brasil.
Nada cresceria em solos
tão áridos: quanta seca, quantas mortes... A passos lentos
caminhava a cidade que expulsava aqueles que tinham pressa. Pouco se conseguiria
andar, se não a vontade de ir além. Para as terras secas,
que viessem água, bancos, obras sociais.
A mídia sulista
cativava ódio e estranheza contra aqueles que eram vistos como
serventes às suas barganhas pessoais. Muito custava aceitar que
o cearense de poucos antecedentes econômicos chegava interinamente
à Presidência da República. A cada posse, o desejo
nutrido por fazer as honras ao município. Feito um filho orgulhoso
que anseia mostrar a nota máxima obtida no exame mais difícil
da escola para a mãe, ele volta.
Trouxe água
à aridez que lhe criara; trouxe os bons ventos e olhos de quem
nos via com estranheza. Paes de Andrade desafiou a própria lógica
e não conteve o desejo mais nato que alimentava: dar satisfação
à terra que se incumbiu de lhe dar sonhos. O pequeno garoto de
Mombaça tornava-se o homem de Brasília, o homem do País.
Que bom que houve críticas.
O alarde da mídia preconceituosa o desdenhava pela bravura do ato.
Pouco imaginavam o rebote da peçonha: nada mais justo que um sentimento
de apego à terra de onde veio; não havia pretensões.
Afinal, em nada a pequena Mombaça poderia acrescentar de prestígio
ao currículo já quase incalculável.
Os laços familiares
me renderam bons momentos de conversa. Em Mombaça ou fora dela,
o conterrâneo que se tornou presidente exalava amor por sua cidade
entocada no Interior do Estado. Sem as guarnições dos militares,
no entanto, armava-se de bravura, amor e respeito pela cidade que agora
leva eternamente o capitão de Mombaça ao coração
do Brasil.
*João
Brainer Clares de Andrade. Médico e escritor. É
natural de Mombaça-Ce.
(Publicado no jornal ,
23/06/2015).
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