HISTÓRIA
Padre
Francisco Lino Aderaldo de Aquino
(Fotografia:
Arquivo da Sala de História Eclesiástica do Ceará. Fotografia
restaurada digitalmente por Thiago Gurgel. Contato: (85) 99985-6841.)
MISSA
NOVA EM MARIA PEREIRA
Motivo
de extraordinaria alegria para o povo mombacense foi a festa mais estrepitosa
que até então se realisou na florescente e sympathica villa
de Benjamin Constant, foi a manifestação mais imponente,
que se tem presenciado n’aquella pitoresca paragem sertaneja.
E
assim o devia ser, pois, era mais um seu dilecto filho que subia o alto
da Montanha Santa afim de celebrar sua primeira missa solemne, era mais
um horisonte que se rasgara brilhante para Maria Pereira - a estréia
do néo-sacerdote Padre F. Lino Aderaldo.
Recepção.
A pesar da estação invernosa e a sua quasi inexperada chegada,
cento e muitos cavalheiros das pessoas mais gradas da localidade lhe fizeram
encontro, saudando a entrada triumphal de S. Rvd.ma às 4 horas
da tarde do dia 2 de Abril.
As
ruas e praça da Matriz achavam-se caprichosamente enfeitadas, feito
avenidas, que na expressão de competente personagem - representava
a entrada de um jardim botanico.
Na
casa de seus queridos paes, onde foi a recepção, tinha na
entrada principal uma bandeira com a significativa palavra - Hozannas!
escripta com letras de ouro, de um lado se achava a «Philarmonica»
postada, que desempenhou lindos dobrados de seu escolhido repertorio,
innumeras gyrandolas subiam ao ar, enquanto que a commitiva era recebida
pela distincta familia do Coronel Aderaldo.
Depois
de um profuso copo d’agua, todos os manifestantes se retiraram,
aguardando anciosos a manhã do dia 8.
Na
vespera do dia 8, no edificio da Camara Municipal, em honra do Rvdm. Padre
Lino Aderaldo, diversas senhoritas levaram uma comedia intitulada - A
Jardinheira, terminando tão agradavel reunião familiar
com a cançoneta - Tudo que eu quero mamãe não
deixa, desempenhado com muito espirito pela intelligente e sympathica
senhorita Nanoca Aderaldo, arrancando calorosos applausos de toda platéa.
Eis
chegado o grande dia.
Pelas
5 horas da manhã a população despertou com o estampido
das salvas e da alvorada, executada pela distinguida «Philarmonica».
Tudo
imponente e encantador!
Logo
após ás 6 horas da manhã, ondas de povo se agglomeravam
na praça da Matriz, esperando a hora designada.
De
sua residencia, ás 10 horas da manhã, paramentado de casula
riquissima, por entre avenidas, dirigiu-se á Matriz o néo-sacerdote,
tendo á dextra o presbytero assistente, ladeados ambos pelos Revd.mos
diacono e subdiacono, acompanhado de quatro anjos lindamente vestidos;
após, formando ala, seguiram os paranymphos: Capitão Francisco
Aderaldo de Aquino, Antonio Gonçalves de Carvalho Pamplona, Capitão
José Laurindo de Araujo Chaves, Francisco Fernandes Castello, Capitão
Pedro Jayme de Alencar Araripe e Coronel Augusto Francisco Vieira, que,
durante o trajecto e Santo Sacrificio da Missa, empunhavam cyrios; em
frente do prestito seguiu a irmandade do SS. Sacramento.
Ao
chegar á Matriz, que se achava repleta de fieis e ricamente revestida
de galas sumptuosas, o néo-levita emocionado, diante da Ara de
Deus tres vezes santo, começou a officiar o portentoso milagre
do sacrificio incruento dos altares, o Santo Sacrificio da Missa; tomando
então logar na Capella-mor os paranymphos, os 4 anjinhos e os illustres
paes do néo-sacerdote, Coronel José Aderaldo de Aquino e
D. Anna Aderaldo.
Na
missa serviram de presbytero assistente o Rvdm. Conego Bernardino Lustosa,
de diacono e subdiacono os Revd.mos vigarios Pedro Leão
e João Epiphaneo.
A
orchestra foi habilmente dirigida pelos mestres das musicas de Senador
Pompeu, Quixadá e Maranguape, Silveira, Nabor e Nanã, levando
a monumental missa de «Colas», producção pernambucana;
as tres vozes foram executadas com pericia pelas senhoritas Antonina Aderaldo,
Maria Benevides e Antonio Pedro de Sá Benevides.
Ao
Evangelho fez o panegyrico das festa o Rvd.mo Vigario Pedro
Leão, provando em todo seu descurso o poder do Sacerdocio Catholico,
dado por Deus no Céo e na terra. O discurso do Padre Leão
esteve na altura de seus dotes oratorios, rico dos ensinamentos doutrinarios
do Evangelho.
As
12 horas terminou a missa, seguindo-se o beija-mão.
Imponente
e tocante foi esta cerimonia sublime em que não só o néo-Sacerdote
beijava as mãos de seus queridos paes como tambem beijavão
esses as mãos de seu filho em veneração ao Devino
Sacerdocio de Jesus Christo!
Durante
a cerimonia do beija-mão que durou 40 minutos a orchestra com o
coro executou o terno canto do «Juraret».
Logo
após o beija-mão o néo-sacerdote teve a felicidade
de fazer o casamento de sua estremecida irmã, Antonina Aderaldo
com o destinguido moço João Fernandes Castello.
Em
seguida todos os assistentes acompanharam o néo-Sacerdote até
a sua residencia onde depois de tomarem profuso copo d’agua foi
servido em lauto e o peparo bamquete de 50 talheres.
O
serviço da meza foi executado com toda correcção
por gentis senhoritas.
Ao
dessert trocaram-se os seguintes brindes:
Do
Major Firmo de Hollanda ao novo Levita, aos jovens noivos e aos seus dignos
progenitores; do Conego Lustoza ao néo Sacerdote; do Vigario Epiphanio
a N. S. Jezus Christo; do Capitam Pedro Jayme ao néo Sacerdote
e a seus respeitaveis pais.
Por
ultimo fez o brinde de honra o Rvd.mo Padre Lino Aderaldo a
D. Antonio Xisto Albano, dignissimo Bispo de Maranhão.
As
6 horas da tarde occupou a tribuna sagrada o Revd.ma Vigario
João Epiphanio, que sempre inspirado, com sua palavra convicta
e cheia de emoção, arrebatou por veses o audetorio, arrancando
lagrimas do néo Sacerdote, fallando das grandezas do Sacerdocio;
desejando ao seu amigo e collega muitas felicidades na nova vida, compartilhando
com as alegrias de seus queridos paes.
Em
seguida o Revd.mo Padre Lino Aderaldo entoou o - «Te Deum»
- findo o qual concluiu toda Solemnidade com a benção do
S. Sacramento.
Pelas
8 horas na noite diversas senhoritas, em honra do novo levita, levaram
a scena uma rica peça dramatica, muito emocionante e religiosa
que muito agradou a platéa, tendo todas as personagens se desempenhado
perfeitamente.
Foi
um dia de alegria e de festas o dia 8 em Maria Pereira, do qual conservarei
eterna recordação.
UM
CONVIVA.
(Texto
transcrito do original: Unitário. Fortaleza-Ce, 20 de maio de 1905,
p. 4)
Música-tema
da página: Odeon, de Ernesto
Júlio Nazareth (1863-1934), pianista e compositor
brasileiro, considerado um dos grandes nomes do "tango brasileiro"
ou, simplesmente, choro. |