HISTÓRIA
Augusto Francisco Vieira (1844-1917), Coronel
Comandante Superior da Guarda Nacional de Maria Pereira.
CORONEL
AUGUSTO FRANCISCO VIEIRA, “O COMANDANTE”
Elcias
Vieira Alencar Benevides*
Nasceu
Augusto Francisco Vieira¹, a 12 de outubro de 1844, no sítio
São Jerônimo, município de Mombaça, sendo filho
do Coronel Rodrigo Francisco Vieira e Silva e Joaquina Maria da Conceição.
O seu falecimento ocorreu no dia 24 de maio de 1917, na hoje cidade de
Mombaça, chamada àquela época Maria Pereira. Acometido
de doença que então desafiava os conhecimentos da ciência
de Hipócrates “estreitamento do esôfago”, permaneceu
os seus últimos dias de vida sem poder ingerir qualquer alimento,
até mesmo os líquidos.
Foi, não há
(como) negar, o Comandante Augusto Vieira, um dos maiores proprietários
do Estado do Ceará. É o que se constata examinando os autos
do inventário e partilha dos seus bens, ocorridos no ano de 1917.
Verifica-se que o ilustre morto, entre semoventes e inúmeros outros
bens fungíveis, possuía 60 propriedades, algumas delas com
mais de 3 léguas de frente e outras como as denominadas Caiçara
e Casa Forte exatamente com 3 léguas cada.
À sua época,
foi um dos chefes políticos sertanejos de maior prestígio
e projeção no seu Estado. Naquele município, chefiou
o partido Acyolino. Entre os seus amigos e leais companheiros de campanhas
políticas, destacavam-se os coronéis Antônio Pedro
(de) Benevides, avô de minha esposa; José Aderaldo de Aquino,
avô do ex-governador do Estado, Dr. Plácido Aderaldo Castelo
e João Martins de Melo, bisavô do Dr. João Castelo
Martins, médico de alto valor. A generosidade que lhe era inata,
aliava-se à grandeza do seu coração, pois, jamais
deixou de fazer valer os seus recursos em benefício dos menos protegidos
da sorte. Daí haver desfrutado, na sua terra natal, da melhor posição
de relevo social, político e econômico, que se mesclava com
o acatamento, respeito e consideração dos seus concidadãos.
Leal e sincero, dedicou
a sua existência ao engrandecimento da sua terra. A sua residência,
por todos denominada a casa da família Vieira, da “Caiçara”,
era visitada ininterruptamente. Para aquela mansão acorriam seus
amigos, correligionários e todos os que necessitavam de auxílio,
jamais negado pelo sensitivo Patriarca.
Embora homem de poucas
letras, possuía largo descortino e uma invejável penetração
espiritual. Constituiu-se de fato, um líder popular. Nas suas terras,
moravam centenas de famílias, sem que lhe pagassem qualquer renda.
Na catástrofe de 1915, salvou inúmeras famílias dando-lhes
dinheiro e gêneros alimentícios. Nas célebres eleições
do passado, deslumbrava vê-lo à frente dos seus 400 eleitores
chegar à cidade, onde uma compacta multidão o aguardava
para conduzí-lo, e aos seus eleitores, até o Adro da Igreja
de Nossa Senhora da Glória, em cujo Templo, o Comandante Augusto
Vieira e o seu séqüito, reverenciavam a Padroeira da cidade.
A seguir, toda população de Mombaça o acompanhava
à sua residência, aclamando-o delirantemente. No seu tempo,
inexistia a compra de votos e o suborno das consciências. Prevalecia,
sim, o prestígio dos verdadeiros líderes. As eleições
embora não obedecessem o sistema secreto de hoje, representavam
o escrúpulo e dignidade de homens, que não transformavam
o seu prestígio e a sua liderança em conchavos políticos,
na troca de cargos e posições acomodáveis. Trabalhava,
persistentemente, pelo progresso e desenvolvimento político e sócio-econômico
da sua terra e da sua gente.
Homem de têmpera
rígida, o Comandante Augusto Vieira, como político e como
cidadão, sempre mereceu o acatamento dos seus contemporâneos
e ancestrais. Com o seu falecimento, a cidade de Mombaça perdeu
o seu maior benfeitor. Eu, neto desse honrado e magnânimo Patriarca,
deixo aqui, consignada a minha homenagem, o meu puro e sincero agradecimento
e reconhecimento pela linhagem genealógica que a todos nos legou
como homem de bem, a serviço da coletividade de Mombaça,
dos seus coestaduanos e da Pátria que lhe conferiu o honroso título
de Coronel da Guarda Municipal (sic). Revendo o histórico inventário
dos bens do Coronel Augusto Francisco Vieira, constatei a doação
de uma légua de terra, constitutiva do sítio “Livramento”,
encravada na serra de “Santa Rita”, aos seus seguintes moradores:
Manoel Felipe, Henrique Miguel, Romualdo Bento do Nascimento, Vicência
Capemba e aos filhos de Mariana Capemba. Além destas, outras filantrópicas
doações cometeu, destinando às casas de caridade,
às instituições religiosas.
Foi, portanto, um espírito
liberal e franco a serviço dos humildes e necessitados. Um grande
líder popular, um homem que dedicou sua vida às obras da
benemerência.
Não desejando
que este Apóstolo do Bem tenha o seu nome relegado ao esquecimento,
é que mais uma vez reverencio, com orgulho e respeito, a sua memória,
memória de um varão que praticou em vida a maior das três
virtudes teológicas: a “Caridade”. E que cimentou a
sua personalidade nos belos ensinamentos da lei de Cristo. Não
obstante haver vivido em uma era bastante remota, revelou iniludívelmente
fortes tendências à evolução social dos nossos
dias, realizando, por outro lado, uma política de alto nível
patriótico e humano. Homem trabalhador e incansável, paciente,
sensato e amante da sua terra e da sua gente; cooperou, de modo decisivo,
para amenizar o sofrimento dos menos protegidos da sorte. O seu poder
econômico, como já o afirmei, jamais deixou de ajudar o sofrimento
alheio e o fazia sem alardes procurando, “antes dar que receber”.
Para melhor reverenciar a memória desse digno filho do Ceará,
transcrevo as seguintes estrofes do imortal “Camões”:
“Eu dessa glória
só fico contente
Que a minha terra amei
e a minha gente.”
Propriedades deixadas
pelo Coronel Augusto Francisco Vieira, um dos maiores latifundiários
do Ceará, como prova o seu inventário feito em Mombaça,
no ano de 1917:
Brejo, Fazenda Nova,
Santa Bárbara, Salgado, Tavares, Bom Jesus, Roça Velha,
Olho D’água, Boqueirão, Caiçara, Trapiá,
Maxixe ou Caridade, Bento Rodrigues, Capivara, Bananeiras, Caldeirão,
Sobradinho, Tamanduá, Olho D’água das Bananeiras,
Locas, Cacimbas, Lages, Cacimba do Meio, São Jerônimo, Fundão,
Cachoeira, Lagoa do Ferreira, Porteiras, Monte Alegre, Cosme, Volta, Serrote,
Barreiras, Fonseca, Ipueiras, Retiro, São João, João
Alves, Recreação, Picada, Waterloo, Santa Rita, Pitombeiras,
Bom Jesus, Mocó, Alívio, Poço Dantas, Arvoredo, Livramento,
Oití, Salto da Pedra, Patos, Feijão, Passagem, Caiçara
(Tauá), Poço da Onça e Manoel Gonçalves.
*Elcias Vieira Alencar Benevides. Industrial. Nasceu em Mombaça-Ce,
no dia 8 de agosto de 1906 e faleceu em Fortaleza-Ce, no dia 9 de agosto
de 1986, aos 80 anos de idade. Era filho de Antônio Jaime de Alencar
Benevides e de Joaquina Augusta Vieira Benevides. Casou-se em Fortaleza-Ce,
aos 22 de setembro de 1933, com Joanita Feijó de Sá e Benevides,
filha de Antônio Pedro de Sá e Benevides e de Cipriana Augusta
Feijó Benevides, de cujo enlace nasceu uma única filha,
Selma Benevides. Nas eleições de 3 de outubro de 1954 foi
eleito prefeito municipal de Mombaça para o período de 1955-1959.
Deixou inédita uma obra genealógica intitulada “Genealogia
da Família Vieira”, que teve como revisor o Dr. Zacarias
do Amaral Vieira.
(Fonte: Genealogia da Família Vieira, de Elcias Vieira Alencar
Benevides)
1.
Augusto Francisco Vieira - Foi vereador da Câmara Municipal
de Maria Pereira nas legislaturas de 1885-1889, de 1900-1904, de 1904-1908
e de 1908-1912, tendo sido o presidente da Câmara Municipal nas
três últimas legislaturas; prefeito municipal de Maria Pereira
(1912, 1914/1915) e Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional de
Maria Pereira, para a qual foi nomeado por decreto de 08/08/1888, recebeu
a carta patente em 22/09/1888, registrou a patente em 12/10/1888 e prestou
juramento em 25/10/1888. Barbosa Lima Sobrinho no prefácio de "Coronelismo,
Enxada e Voto", de Victor Nunes Leal, afirma que: "A Guarda
Nacional, criada em 1831, para substituição das milícias
e ordenanças do período colonial, estabelecera uma hierarquia,
em que a patente de Coronel correspondia a um comando municipal ou regional,
por sua vez dependente do prestígio econômico ou social de
seu titular, que raramente deixaria de figurar entre os proprietários
rurais". O "coronelismo" constituiu-se, em sua plenitude,
na expressão máxima do poder econômico, social e político
até a primeira metade do século XX em certas áreas
do Brasil, principalmente na região Nordeste.
Música-tema
da página: Odeon, de Ernesto
Júlio Nazareth (1863-1934), pianista e compositor
brasileiro, considerado um dos grandes nomes do "tango brasileiro"
ou, simplesmente, choro.
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