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Padre Sarmento de Benevides: poder e política nos sertões de Mombaça (1853-1867)
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Padre Sarmento de Benevides: poder e política nos sertões de Mombaça (1853-1867)
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HISTÓRIA

Fac-símiles de carta e abaixo-assinado denunciando ao presidente da Província do Ceará, Francisco Xavier Paes Barreto, as ações políticas do padre Antônio José Sarmento de Benevides na vila de Maria Pereira, publicados no jornal "O Araripe", edição nº 109, p. 2-3, de 12 de setembro de 1857.

PADRE SARMENTO DE BENEVIDES: HERÓI OU VILÃO DA FORMAÇÃO SÓCIO-POLÍTICA MOMBACENSE?

 

O padre Sarmento de Benevides exercia uma função de proa nas eleições municipais, pois, como padre paroquial, presidia as eleições junto com um juiz de paz eleito e o delegado de polícia nomeado. Era ao mesmo tempo vigário da paróquia, deputado provincial e membro da mesa eleitoral. (CRUZ, 2010, p. 62)

O padre Sarmento de Benevides foi um personagem emblemático que provocou sentimentos extremos de amor e ódio. Os próprios inimigos auferidos nos embates políticos, o respeitavam. O seu estilo impetuoso o levou a ser, por determinados períodos, suspenso de ordens e da vigairaria, sem, contudo, deixar de exercer, com mão forte, a sua liderança política. (CRUZ, 2010, p. 83)

Dois anos após a apresentação da monografia "A administração pública em Mombaça e a influência do padre Sarmento de Benevides (1853-1867)" à banca examinadora da UNICE - Ensino Superior, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração, localizamos na seção Correspondências, da edição nº 109, do jornal "O Araripe", de 12 de setembro de 1857, os documentos que são reproduzidos logo abaixo: uma carta apócrifa (assinada por "O Mumbacense") e um abaixo-assinado que tem como signatários Antonio Honorato Silva Limoeiro e outras 52 assinaturas de diversos, denunciando ao presidente da Província do Ceará, Francisco Xavier Paes Barreto, as ações políticas do padre Antônio José Sarmento de Benevides na vila de Maria Pereira.

Os textos foram transcritos na íntegra e obedecem à grafia original, mantendo-se os erros ortográficos. Fica a pergunta: o padre Sarmento de Benevides foi herói ou vilão da formação sócio-política mombacense? Cabe à História julgar.


O padre Antônio José Sarmento de Benevides foi deputado provincial do Ceará em oito legislaturas, chefe local do Partido Conservador, membro da mesa eleitoral e inspetor das aulas da vila de Maria Pereira. (Acervo: Sala de História Eclesiástica do Ceará. Fotografia restaurada digitalmente por Thiago Gurgel. Contato: (85) 99985-6841.)

Sr. Redactor do Araripe.

Certão de Maria Pereira 23 de Agosto de 1857.

Acabo de lér o virolento e estupido descurso proferido na assembleia provincial do Ceará em sessão do 29 de Julho p. passado pelo Vigario desta Freguesia Antonio José Sarmento de Benevides: em verdade fiquei surpreso da audacia de um homem que valendo da immerecida posição a que o elevou o frenesim dos partidos, do alto da Tribuna vomita as mais asquerosas calumnias, de que alguem por mais canalha que fosse podia lembrar-se, contra respeitaveis cidadaos a quem vota odio. Eu não devia deixar passar desaprecebida tanta bandalheira, só digna do homem vicioso e incorregivel, mas naõ julgo que esse descurço fizesse a menor impressão no publico contra os calumniados, e que os homens imparciaes farão do sr. Vigario Sarmento, aquelle conceito de que elle se fés digno, por seu proprio descurso.

A conducta, moralidade, e probidade dos Senhores dr. Francisco Gonsalves da Rocha, Major Rodrigo, André Joaquim de Oliveira, Alferes Lemos, e dos mais sobre quem o Vigario lancou sua immunda baba, estão mui a cima da desse detractor convicto. Os factos fallão mais alto, do que a vóz de um calumniador; partindo pois desse principio peço a vm. publique em seu jornal a representação que a esta acompanha na qual apenas se contem a milessima parte dos destempeiros aqui praticados por esse pastor incorrigivel. Por esses factos o publico se convencerà do caracter de um homem que coberto de peccados se atreve com tanta sem cirimonha a calumniar a homens probos.

Com a publicação destas linhas, e da representação de que a cima trato lhe será grato.

O Mumbacense.

ILLM. EXM. SR.

Nòs abaixo assignados levamos ao conhecimento de V Ex os horrorosos crimes que se tèm perpetrado neste termo, desde que assumio ao cargo de delegado de Policia o Cidadaõ Joaõ Alves de Carvalho Gaviaõ, os quaes naõ teem sido punidos pelo delegado e mais authoridades deste Termo; assim como alguns factos vergonhosos e criminosos praticados pelo mesmo delegado e mais authoridades, que saõ regidas pelo Vigario desta Freguesia Antonio José Sarmento de Benevides, homem sem pondonor, que protege ao crime, pelo mesquinho interesse de quantias que recebe dos criminosos, para faser com que as authoridades naõ cumpraõ com seus deveres deixando passar impunes os mesmos crimes. Passamos a expor a V. Ex. alguns factos bem sabidos de toda populaçaõ deste termo, ou para milhor diser de toda Comarca, para que V. Ex. tomando em consideraçaõ dê as providencias que achar convenientes; os quaes são os seguintes.

Em dias do mez de Outubro do anno proximo findo José Felix de tal morador no lugar denominado Cacimba do meio do discricto desta Villa, casado ha um mez pouco mais ou menos, assassinou sua propria mulher com um tiro de espingarda ou clavinote que lhe descarregou sobre o pescoço, e no mesmo momento que perpetrou o crime veio a casa do Vigario nesta Villa valer-se delle ( como he publico ) entretanto que apenas se fes corpo de delicto no cadaver da pobre infelis que foi sepultada nesta Villa, e até o presente inda naõ se instaurou o processo, e nem foi perseguido este barbaro assassino, por ser protegido do Vigario.

Em dias do mes de Outubro tambem do anno proximo passado, tendo vindo a esta Villa para a sessaõ do jury o Juis Municipal em exercicio de Juis de Direito interino o dr. Jose Fernandes Vieira Bastos, em sua volta desta Villa para a do Thauà, na distancia de tres ou quatro legoas encontrou um sequito de seis criminosos todos armados de clavinotes, montados a cavallo, entre os quais o mais nomiado é o pardo Manoel Francisco criminoso em duas mortes e um roubo, e se acha residindo neste termo apatrocinado do Vigario desta Freguesia, que se dirigiaõ a esta Villa: immediatamente o mesmo dr. na primeira morada que encontrou deixou de seguir sua viagem: e dahi officiou ao delegado de Policia Gaviaõ, e fes, voltar seo ordenança com dito officio para o delegado, afim de serem capturados dentro da Villa os ditos criminosos; porem foraõ baldados os exforços e providencias do mesmo dr., porque quando chegou as maõs do mesmo delegado o dito officio, os criminosos se achavaõ em casa do Vigario, e elle logo que leo foi para onde se derigio como foi presenciado pelo soldado conductor do officio e por todo povo que se achava nesta Villa.

Logo que, Exm. senhor, o delegado entrou em casa do Vigario sahiraõ os ditos criminosos, montaraõ se a cavallo, e retiraraõ se desta villa, e ao depois de algum tempo passado, foi que o delegado mandou notificar alguns cidadaõs, para os perseguir, quando ja mais os poderia encontrar.

Deste facto que acabamos de mencionar, poderá informar se V. Exm do mesmo dr. que estamos convencidos, que elle naõ recusará diser a verdade, pois se sabe de todo occorrido.

No dia desaceis de desembro proximo passado, foi espancado no segundo districto deste termo na povoaçaõ da Pedra branca, o pardo de nome Antonio Angelo, por dous indeviduos os quaes ignora seja porem dis a vós publica ter sido o auctor deste espancamento o vigario desta freguesia, por causa de uma mulher meretris. Este facto naõ affirmamos a V. Exm; porque naõ temos certesa delle.

No dia deseceis de desembro proximo passado foi preso pelo delegado de policia nesta villa as sete horas da manha o cidadaõ Antonio Alves de Castro filho de Antonio Rodrigues Delgado, moradores no lugar denominado Riacho do Mosquito, pelo falso crime de defloramento de uma moça de vinte e tres a vinte e quatro annos, que ja tem tido dous filhos e acha-se peijada d' um terceiro como é publico e notorio; entretanto o delegado querendo que o dito Castro reparasse o damno causado por outros ja a annos passados, o prendeo a sua ordem, amiaçou disendo que se elle naõ casasse assentaria praça, porem o dito Castro moço de vergonha filho de um pae de sentimentos nobres, preferia antes assentar praça do que emvergonhar sua familha.

A vista da resposta do dito Castro o delegado immediatamente deitou lhe par de algemas e como recruta o mandou para o quartel do Alferes Lemos, extacionado nesta villa, para tel o em segurança até que lhe désse o conveniente destino; ahi esteve até o dia 26 do mesmo mes, dia em que de novo mandou-o buscar a sua presença, para ver se o dito Castro ja estava resolvido a casar com dita moça: ao que elle respondeo que naõ, que nada devia.

O delegado porem sabendo que o dito Castro naõ estava no caso de servir ao exercio por ser o filho unico que tem o supracitado Delgado, anciaõ de 60 e tantos annos, o seo unico arrimo em sua velhice, por isso que tendo exempções legaes, o soltou.

Ponderámos á V. Ex. que a rasaõ que teve o delegado para prender dito Castro, foi ter o pae do mesmo Castro, appresentado de publico, no dia dois de novembro proximo passado ao dr. juis de direito desta comarca o sr. Rocha, e dos alferes Lemos e Castro, e muitas pessoas, um animal cavallar, que Joaõ Alves de Carvalho Tatajuba, ex juiz municipal supplente, primo do delegado, tinha furtado delle; ferrado sobre o ferro delle, e vendido a outro, achando se o dono ainda no desembolso do dito animal, porque o comprador naõ quis entregal o voluntario e toda justica local é dominado pelo vigario socio de semilhantes perversidades.

No dia dois de janeiro deste anno, Reginaldo José, espancou barbaramente com um cacete nas ruas desta villa, uma mulher de nome Maria de tal por alcunha Boneca, na qual lhe fes dois ferimentos na cabeça e muitas contusões pelo corpo; por mando de Maria Gomes Benevides, prima do vigario desta freguesia, casada com Bernardino Lopes de Moraes morador nesta villa, por causa de entrigas particulares, e sendo logo preso o delinquente em flagrante pelo mesmo delegado, por que o espancamento fora feito junto a sua casa, e elle ignorava quem tinha sido o mandante.

Porem no dia seguinte foi solto o mesmo delinquente sem mais satisfaçaõ ao publico e nem ser punido, entretanto que a pobre infelis acha se doente em cima de uma cama.

Este facto Exm senhor, foi publico nesta villa e bem poderá informar a V. Ex o alferes Lemos, que se acha extacionado nesta villa, em quem depositamos confiança, e estamos convencidos pelo seo caracter sincero, que naõ recusará informar a V. Ex. o facto, tal qual como acabamos de expender, pois que foi tambem por elle presenciado.

Concluiremos pois Exm. senhor narrando nao todos os factos que tem occorido neste termo, e sim sò estes mais recentes, para que V Ex. possa conhecer dos actos praticados pelas authoridades deste termo sendo auctor de todos estes màos procederes das authoridades o vigario desta freguesia Antonio José Sarmento de Benevides.

Exm. senhor, o vigario desta freguesia, é o Mentor das authoridades actuaes porque foraõ por elle indicadas e por essa presidencia aprovadas e nomiadas, resultando que, Ex. senhor, estes cidadaõs sem força moral, nem prestigio algum, apenas vivem de seos officios, sendo o delegado carpina e o ex juis municipal supplente capateiro, ja mais poderaõ impor a estes a quem tudo devem, porq' d'antes viviaõ obscuros sem serem conhecidos na sociedade, e hoje dominaõ e massacrão os propriétarios deste termo.

Esperamos do justiceiro coração de V. Ex. que attendendo as rasões expendidas e conhecendo da verdade dos factos que exposemos, pelos quais juramos, V. Ex. dê as providencias como achar da justiça, para que possaõ os povos deste termo gosar de tranquilidade e segurança individual.

Deos guarde a V. Ex. Villa de Maria Pereira 9 de janeiro de 1857

Illm. Exm. Senhor Dr. Francisco Chavier Paes Barreto, presidente desta provincia

Antonio Honorato Silva Limoeiro

Seguem se mais 52 assignaturas de diversos.

Fonte:
Biblioteca Nacional Digital do Brasil. Disponível em: <
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=213306&pagfis=452&pesq=&esrc=s>. Acesso em 08-JUL-2012.

Música-tema da página: Odeon, de Ernesto Júlio Nazareth (1863-1934), pianista e compositor brasileiro, considerado um dos grandes nomes do "tango brasileiro" ou, simplesmente, choro.


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