HISTÓRIA
Ilustração
de Percy Lau (1903-1972).
O
POVOAMENTO DOS SERTÕES DE MOMBAÇA
O
marco inicial do povoamento de Mombaça foi a concessão da
sesmaria ao coronel João de Barros Braga, à pernambucana
Maria Pereira da Silva e ao português Serafim Dias, em 12 de outubro
de 1706.
Dos
três sesmeiros, apenas o coronel João de Barros Braga (que
era casado com uma irmã de Maria Pereira da Silva), não
fixou residência nas suas terras, tomando posse das mesmas por intermédio
dos seus vaqueiros.
O coronel João
de Barros Braga deixou um lamentável legado histórico para
o Brasil. De acordo com o historiador José Eudes Arrais Barroso
Gomes em "As milícias d’El Rey: tropas militares e poder
no Ceará setecentista": "Autorizado por uma ordem do
capitão-mor interino do Ceará, Plácido de Azevedo,
em 1713 o coronel João de Barros Braga liderou uma expedição
de guerra aos índios Jaguaribara, Canindé e Anacé
na ribeira do Jaguaribe,...". Continuando, acrescenta: "Em 1727,
o coronel João de Barros Braga liderou uma nova campanha de guerra
aos "gentios" da capitania, desta feita subindo as extensas
ribeiras do Jaguaribe e Banabuiú até atingir os limites
da capitania do Piauí, matando e escravizando a um grande número,
incursão que parece ter sido a última grande expedição
de guerra aos índios na capitania do Ceará-Grande".
Em 1730, João
de Barros Braga recebeu como mercê do vice-rei do Estado do Brasil,
Vasco Fernandes Cezar de Menezes, o posto de capitão-mor da capitania
do Rio Grande em reconhecimento aos serviços prestados, por quase
33 anos, à capitania do Ceará Grande.
A pernambucana Maria
Pereira da Silva, que é considerada a fundadora de Mombaça,
era filha de Cosme Pereira Façanha e de Brites da Silva. Foi casada
com João da Cunha Pereira, com quem teve 10 (dez) filhos. De sua
filha Maria Teresa de Souza casada com o português Pedro de Souza
Barbalho, pais de Maurícia Pereira da Silva, descendem a grande
parte das famílias de Mombaça.
Cosme Pereira Façanha,
pai de Maria Pereira da Silva, era almoxarife da Fazenda Real de Pernambuco,
cargo ocupado por cerca de 18 anos. Segundo o historiador mombacense Prof.
Rafael Ricarte da Silva em "A formação da primeira
elite colonial dos sertões de Mombaça: Terra, família
e poder (1706-1782)" (Revista do Arquivo Público do Estado
do Ceará, 2009, p. 155-168): "Este cargo era importante no
período, pois o almoxarife da Fazenda Real era uma das autoridades
responsáveis por controlar, fiscalizar o comércio existente
na capitania. Portanto este deixa o cargo que ocupava na Capitania de
Pernambuco e migra para os Sertões de Mombaça, onde estabelece
sua propriedade".
Entre a concessão
da primeira sesmaria no ano de 1706 e o final do século XVIII pouco
se conhece sobre a história mombacense. Segundo Augusto Tavares
de Sá e Benevides, em "Mombaça: biografia de um sertão"
(Imprensa Oficial do Ceará, 1980): “Concedidas as terras
de Sesmarias, implantaram-se as Fazendas de criação de gados,
consolidando-se o domínio sobre as posses firmadas”.
Conforme a tradição
oral, Maria Pereira da Silva atraía os viajantes em demanda do
litoral à sua fazenda denominada de Boca da Picada, depois fazenda
Maria Pereira (onde hoje está situada a sede do município),
por sua hospitalidade, servindo de pouso para os viajantes e repasto para
os animais.
Há dois anos
a Câmara Municipal de Mombaça aprovou por unanimidade em
sua sessão ordinária realizada no dia 16/02/2013 decreto
legislativo de autoria do vereador Fernando Antonio Alves de Alencar,
popularmente conhecido como Borel Alencar, criando a "Medalha do
Mérito Municipal Maria Pereira da Silva", tornando-a assim,
como distinções congêneres de outros municípios
brasileiros, na principal comenda do município de Mombaça.
(Publicado
no jornal ,
Ano XXXIX, nº 164, Abril/2015).
Referências
bibliográficas:
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F. Alves de. Mensagens em minúsculas e saga dos sertões
de Mombaça. Fortaleza: Stylus Comunicações,
1987.
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BENEVIDES, Augusto Tavares de Sá e. Mombaça: biografia
de um sertão. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1980.
COSTA SOBRINHO, Manuel. Minha árvore genealógica.
Fortaleza: [sine nome], 1997.
CRUZ, Fernando Antonio Lima. Padre Sarmento de Benevides: poder
e política nos sertões de Mombaça (1853-1867). Fortaleza:
Expressão Gráfica e Editora, 2010.
FONSECA, Antonio José Victoriano Borges da. Nobiliarchia pernambucana.
Mossoró: Coleção Mossoroense, IV v., 1993.
GOMES, José Eudes Arrais Barroso. As milícias d'El Rey:
tropas militares e poder no Ceará setecentista. 2009. 273 f. Dissertação
(Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em História,
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.
NOBRE, Geraldo. O processo histórico de industrialização
do Ceará. Fortaleza: FIEC, 1989.
SILVA, Rafael Ricarte da. A formação da primeira elite
colonial dos sertões de Mombaça: terra, família
e poder (1706-1782). Revista do Arquivo Público do Estado do Ceará,
Fortaleza, n. 6, p. 155-168, 2009.
SILVA, Rafael Ricarte da. Formação da elite colonial
dos Sertões de Mombaça: terra, família e poder
(Século XVIII). 2010. 188 p. Dissertação (Mestrado
em História Social) - Programa de Pós-Graduação
em História Social, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
2010.
Internet:
A família
Barbosa Cordeiro, de Vinícius Barros Leal. Disponível em
<http://www.ceara.pro.br/Instituto-site/Rev-apresentacao/RevPorAno/2005/2005-AFamiliaBarbosaCordeiro.pdf>.
Acesso em 24-JUL-2009.
Antigas Famílias, de Francisco Augusto. Disponível em <http://familiascearenses.com.br/images/ANTIGAS.pdf>.
Acesso em 29-AGO-2006.
Uma Família do Aracati - Ascendentes do Padre Ibiapina, de Francisco
Augusto. Disponível em: <http://familiascearenses.com.br/images/PINTO.pdf>.
Acesso em 24-JUL-2009.
Música-tema
da página: Odeon, de Ernesto
Júlio Nazareth (1863-1934), pianista e compositor
brasileiro, considerado um dos grandes nomes do "tango brasileiro"
ou, simplesmente, choro.
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